domingo, 16 de maio de 2010

MALA PARA ESCONDER NOSTALGIA.
Maria lembrava de seu toque sobre ela, todas as vezes que a melodia da música Palhaço, de Egberto Gismonti, fazia cócegas em seu ouvido, em sua alma. Era como se só o fato da música se mostrar presente naquele instante,fizessem todas as lembranças de um amor adormecido acordarem e fazerem-se presentes, como algo muito esperado,uma surpresa.
Porém, para ela, não era surpresa que na distância de alguns piscares de olhos, a imagem daquele homem acariciando seu rosto com o rosto, a despertasse para um mundo de fantasias, um verdadeiro Alice no país das Maravilhas, onde os tamanhos eram contrários, contraditórios, exuberantes, distantes entre si.
Ele dizia à ela que a intensidade das cores de seu amor por ela é diferente, não maior ou menor, e sim diferente, talvez até complementar.Mas ela não conseguia entender, no sentido literal da palavra.Talvez até pudesse entender o que aquela sequência de palavras organizadas de maneira a formar uma frase dizia, mas não entendia o sentido real daquilo tudo.
Ela admirava a coragem daquele homem de negar um amor, de negar o seu amor. Era como se todo o sentido racional das coisas fossem aumentados,como se fosse colocado uma lente de aumento sobre.E seu lado intuitivo, emocional, se obrigasse a tomar a poção que a tudo diminuia,fazia sumir.
O tamanho das coisas, sentimentos, possibilidades,acontecimentos, era alterado à todo instante por ele, sem o mínimo aviso prévio, e sem a autorização de Maria, que era peça fundamental da história, primeira pessoa a ser atingida pela mania daquele agora estranho homem, que à tudo diminuia, escondia.
Ela sentia que poderia ter os seus sentimentos e pensamentos alterados de tamanho, toda a vez que os mesmos assustassem aquele sujeito, de maneira a fazê-lo esconder-se no meio daquela mala cheia, cheia dos sentimentos, pensamentos e intuições escondidas, misturadas, apertadas no lugar que tudo escondia e guardava.
Quando quase explodia de tanto amor e lembranças à dar, trocar, oferecer, perguntou aonde poderia guardar tudo o que sentia.O homem fazendo-se de distante, sério e racional, só respondeu:
Faça como eu: Guarde tudo apertado, misturado e escondido na mala que tudo engole e guarda, e leve essa mala consigo para qualquer lugar que for, para em um momento de melancolia e nostalgia lembrar-se de tudo o que não expôs,que não viveu, que não se permitiu, já que escondeu "aquilO" tão bem escondido que não sabia mais onde havia colocado.
Priscila Reis

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