MALA PARA ESCONDER NOSTALGIA.
Maria lembrava de seu toque sobre ela, todas as vezes que a melodia da música Palhaço, de Egberto Gismonti, fazia cócegas em seu ouvido, em sua alma. Era como se só o fato da música se mostrar presente naquele instante,fizessem todas as lembranças de um amor adormecido acordarem e fazerem-se presentes, como algo muito esperado,uma surpresa.
Porém, para ela, não era surpresa que na distância de alguns piscares de olhos, a imagem daquele homem acariciando seu rosto com o rosto, a despertasse para um mundo de fantasias, um verdadeiro Alice no país das Maravilhas, onde os tamanhos eram contrários, contraditórios, exuberantes, distantes entre si.
Ele dizia à ela que a intensidade das cores de seu amor por ela é diferente, não maior ou menor, e sim diferente, talvez até complementar.Mas ela não conseguia entender, no sentido literal da palavra.Talvez até pudesse entender o que aquela sequência de palavras organizadas de maneira a formar uma frase dizia, mas não entendia o sentido real daquilo tudo.
Ela admirava a coragem daquele homem de negar um amor, de negar o seu amor. Era como se todo o sentido racional das coisas fossem aumentados,como se fosse colocado uma lente de aumento sobre.E seu lado intuitivo, emocional, se obrigasse a tomar a poção que a tudo diminuia,fazia sumir.
O tamanho das coisas, sentimentos, possibilidades,acontecimentos, era alterado à todo instante por ele, sem o mínimo aviso prévio, e sem a autorização de Maria, que era peça fundamental da história, primeira pessoa a ser atingida pela mania daquele agora estranho homem, que à tudo diminuia, escondia.
Ela sentia que poderia ter os seus sentimentos e pensamentos alterados de tamanho, toda a vez que os mesmos assustassem aquele sujeito, de maneira a fazê-lo esconder-se no meio daquela mala cheia, cheia dos sentimentos, pensamentos e intuições escondidas, misturadas, apertadas no lugar que tudo escondia e guardava.
Quando quase explodia de tanto amor e lembranças à dar, trocar, oferecer, perguntou aonde poderia guardar tudo o que sentia.O homem fazendo-se de distante, sério e racional, só respondeu:
Faça como eu: Guarde tudo apertado, misturado e escondido na mala que tudo engole e guarda, e leve essa mala consigo para qualquer lugar que for, para em um momento de melancolia e nostalgia lembrar-se de tudo o que não expôs,que não viveu, que não se permitiu, já que escondeu "aquilO" tão bem escondido que não sabia mais onde havia colocado.
Priscila Reis
domingo, 16 de maio de 2010
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