terça-feira, 25 de janeiro de 2011

NUANCES CORPORAIS
O corpo inteiro treme, por dentro sinto movimentando-se inúmeros fantasmas, sombras de mistérios não desvendados. Sinto-me palco de um teatro de sombras, elas brincam no meu interior, fazem cócegas, angustiam, machucam, esticam até onde não lhes cabe mais.
Se ao menos pudesse identificá-las, classificá-las, catalogá-las, dispondo em sessões diferenciadas.Seria tudo tão mais claro, mais contundente, mas talvez sem a intensidade da descoberta que quase me explode, que quase estoura para fora do meu portador de mobílias que metaforiza sensações e sentimentos não identificados plausivelmente.Corpo aberto para análises e observações, para encontrar meu oco e meu estufamento.Localizar onde fica e por onde sai ou ainda onde se aloja e fixa moradia os conteúdos que desconheço.
Quero descobrir o que em mim habita, o que em mim cabe ou aperta, o que em mim desperta essa expansão. Será que meu corpo encontra-se preparado para tal alargamento, ou ainda tenta passar a gola da camisa pela cabeça, num movimento de encaixe?A gola ainda aperta minha cabeça, não consigo entender como adaptar essa vestimenta a mim ou me adaptar à vestimenta.
A sensação de desconhecimento e não diferenciação do que em mim habita é assustadora, feito primeira vez na montanha russa que anda no escuro. No meu interior sei que há inúmeras tonalidades à serem despertas, isso me comove, me instiga me alimenta.Mas para me alimentar preciso sentir fome, e dentro desse movimento de sentir fome, falta de comida e falta do sentir fome que a ausência permite, me perco. Tenho mesmo fome, ou apenas o desejo de comer?
A distinção entre necessidade e desejo se faz contraditória, de difícil compreensão, me parece uma sensação metafísica.Qual é a minha relação com o que desejo, o que necessito, e necessito desejar.Isso me coloca numa encruzilhada.Dentro dessa dinâmica me sinto, me faço, sou, me faço perceber estranha. Sou estranha à mim mesma, eu me assusto comigo, me indigno, clamo por um pouco de neutralidade, por simplesmente viver, sem pensar, ou pensar sem fazer doer.
Gostando da brincadeira do imaginar, vislumbrar as tonalidades em potência dentro de mim,da possibilidade de sombras me habitarem, em minha mente me faço toda preto e branco.Nas sutilezas das nuances dessas duas cores,altero a intensidade das coisas ora clareando ora escurecendo meus sentimentos.Com a sutileza branca de meus gestos, delineio minhas vontades com a mesma intensidade de um preto quase negro, ou melhor de um preto vigoroso.
Percebo-me no limite a todo momento, quando andando na tênue linha entre o preto e branco, tenho que escolher em qual lado pular.Quando criança isso não me incomodava, pelo contrário, minha diversão favorita era pular só no lado preto ou só no lado branco da calçada.Não deixava de ser um desafio, mas não me sentia desafiada pela certeza, forçada a escolher apenas um lado. Sabia que era só uma brincadeira, e que nada me aconteceria se pisasse em falso na cor oposta.Existe um meio termo entre tão distintas cores?
Incomoda-me o fato de ter que optar por uma delas.Gosto e sinto-me em êxtase em alterar entre as duas cores e suas inúmeras possibilidades e tonalidades.
As cores e seu contraste mútuo preenchem meus vazios, e invadem minha alma, colorindo seus mais intensos contrastes.
Minha vida se passa como um filme preto e branco, onde os cinzas são evidenciados, sentidos e valorizados, agora. As passagens se dão como uma escala tonal.E a descoberta das cores que colorem meu intimo me comove e instiga.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A carta daonde escrevo não é o lugar que queria residir.Minha morada se faz dentro do lugar a que não pertenço.Eu busco uma morada que realmente seja minha, aonde saberei exatamente como estão organizados meus objetos pessoais.
Esse lugar a qual almejo, tem janelas para a rua, onde pessoas passam à me encarar e portas para a minha alma, que repousa sentada no vão da porta, ventilando-se e buscando aromas para exalar no lindo dia em que minha primavera desabrochar dentro de mim
Priscila Reis

sábado, 11 de dezembro de 2010

Entre a gaiola,a mata aberta e si próprio

Soa-me tão estranho colocar meu texto em primeira pessoa, que me toma uma vontade de achar uma outra pessoa para nomear meus desejos, minhas frustrações, crises e loucuras. Porém, de repente, vislumbro a possibilidade de quebrar meus próprios paradigmas e me desafiar a escrever meus afetos em primeira pessoa, nomear sensações e situações em meu próprio nome,singular. A sensação de que posso nomear coisas todas minhas, me traz um certo alivio.
Ë como se,dessa forma, tivesse minha vida em mãos, como se pudesse senti-la com toda intensidade e dar tonalidades todas minhas. Esse universo todo particular, de mergulho em si , me fascina e me cobre de sentimentos dúbios, contraditórios. Ao mesmo tempo em que sinto uma alegria toda intensa, que quase me escapa do controle, me inundar, sinto uma eterna angústia assustadora.
Gosto de comparações e, quando exemplifico, tudo parece ficar mais fácil. É como se eu fosse uma passarinho que sempre viveu dentro de uma gaiola, e que , de repente,de surpresa, é solto para o mundo. Ele não sabe o que fazer primeiro. Não sabe se leva seus pertences junto ä ele, para nunca mais voltar,ou se os deixa lá dentro, para ter motivo de volta, lugar seguro e confortável e para sua ausência ser notada.
Quando sai para o mundo, fica tão feliz de estar livre naquela imensidão de verdes, mas não está livre nos seus pensamentos, em sua mente a imagem da sua confortável gaiola e de quem o cuidava e fazia companhia não lhe abandona. Nesse mergulho pra fora da gaiola, ele mergulha no seu próprio universo, entra em si com toda intensidade de um homem à penetrar vagina pura e virgem.
A busca fora da gaiola, que sempre o prendeu, porém numa prisão segura, que lhe agradara por determinado tempo, o levara a buscar em si ferramentas para encarar aquela floresta que o devorava. Essa busca dentro de si, era o que o mantinha fora da gaiola. Era preciso todo um arsenal para viver fora daquele apertado ambiente, num mundo imenso e de possibilidades mil. Ele tem que lidar com o sentimento de estar fora de reduzido lugar trancafiado, voando em mata aberta, procurando em si uma liberdade que nunca imaginou poder ter e as ferramentas próprias para lidar com ela, encarando-a e ao mesmo tempo vivendo-a com toda intensidade e veracidade.
Me vejo de novo à tomar como exemplo o outro, parece-me mais fácil e fluido.Para que falar de mim ,citando-me diretamente,se sinto-me como esse pássaro entre a gaiola ,a mata aberta e si próprio.Não acredito que ele tenha que tomar uma decisão crucial, escolher apenas um lugar em que pretende ficar e ajeitar seus pertences à esse ambiente.Acredito em escolhas, mas não nas realizadas em prol de definições de papeis sociais fixos, de maneira a se colocar ao outro e a sociedade.Acredito na escolha que começa e acaba em si, mesmo passando de relance pelo outro.Porém essa escolha tem que ser feita de maneira fluida e natural.
Não acredito que devamos nos prender a crenças, lugares, ideais e definições.Sinto-me oscilando em meus pensamentos e emoções,porém, tenho gostado dessa viagem.O balanço do barco sob as ondas, me faz lembrar de um tempo em que brincava de ser sereia, pirata, pescador, sem me prender a escolher um determinado papel ou lugar.Quando se é criança, todos os lugares são seus, e com eles, todos os personagens, possibilidades, devaneios. Quando se é criança, nenhuma decisão é para sempre, nenhuma escolha tem que ser feita de maneira fixa e estável.
Quando eu era criança, o futuro não existia, as pessoas eram para sempre, as situações vividas com toda a intensidade, o presente a única existência, o filhote de cachorro era o cavalo da minha Barbie, a bacia de lavar roupa da minha mãe era piscina da Barbie, minha mãe nunca mais me buscaria na escola, pasta de dente era comestível, amigos para sempre, cachorros e outros bichos pensavam e sentiam.
Não quero ter agora que escolher não ser mais criança.A infância reside em mim e me mantém viva , com toda a vivacidade, não apenas sobrevivência.Não sei se algum dia quero ter alguma certeza, certa e imutável.Gosto do contraditório,das oscilações, elas me fazem lembrar quando brincava de barco no mar revolto.Viva a infância e que ela nunca morra em ninguém,que no máximo adormeça em instantes de descuido.Ainda acredito que o filhote de cachorro é o cavalo da minha Barbie, mas não acredito e nunca quero acreditar que as coisas são pra sempre , o mesmo, sem menores alterações, e que a passagem de fases seja tão marcada e delimitada.Primeiro se é criança, depois pré adolescente, adolescente, jovem adulto,adulto, meia idade e idoso. EU não quero acreditar nessas cisões em definições absolutas e conceitos para tudo. Quero acreditar que algumas coisas são simplesmente inexplicáveis e que somos humanos, que brincam de ser tudo e todos, sem separações por faixa etária.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Feito papel machê na imaginação
Perguntei à ela qual era a sensação ao escutar trechos das minhas descrições poéticas, ela assim descreveu: é como um drops: pequeno, intenso, refrescante, casual, rotineiro e íntimo.
Gostei da sua definição, da maneira poética como encaixou as palavras e como elas significavam uma ao lado da outra. Como faziam companhia uma à outra, reforçando ou dizendo de outras maneiras o que queria ser explicitado, tornando-se inteiramente explícito aos olhares alheios.
Gosto de fazer esse questionamento a outras pessoas, a diferentes pessoas e juntar isso à minha maneira de viver, experienciar e sentir as coisas. Outro dia, uma amiga me disse que se via no que escrevo, feito Narciso ao olhar, surpreso, sua própria imagem no rio de águas límpidas.
Quando escrevo, não busco levantar bandeiras ou defender a todo custo ideais e causas nobres.Quando descrevo, quero apenas tornar as cenas cotidianas mais pictóricas e dirigir os olhares para essas cenas que descrevo e para dentro de si.
Essas cenas acontecem fora de mim, mas depois vão pra dentro de mim, significam, resignificam e são expelidas ao mundo em uma ordem toda minha e toda do outro, ao ser vista por outra menina dos olhos, banhada em cores e formas diferentes.
É essa visão, interpretação, reinterpretação que me fascina, a forma como modelamos em nossa mente tudo o que digerimos em palavras, imagens, traços, versos e letras.
Gosto das comparações, bem direcionadas, diga-se de passagem. Essa mesma moça que definiu trechos dos meus textos enquanto drops, disse que tudo é um papel machê na minha imaginação.Apreciei o comparativo, a figura de linguagem me levou à sentir, ao cerrar minhas retinas, toda a textura desse papel e a mágica de sua transformação, feito transformar nuvens e formas incompletas em desenhos só meus. Esse jogo é tão divertido.
Mais divertido ainda, é ver os pequenos detalhes e casualidades com uma lupa de aumento.Aquela menina, vestida de uniforme da escola, aguardando a condução no quintal, e brincando de enxergar os detalhes com lupa, me encheu de ânimo e fantasia.
É disso que falo, uma imagem que diz tudo o que quero dizer.Essa menina deve ter seus 10 anos, e mostrava-se vislumbrada com os pequenos pedaços que avistava.Imagino o que ela poderia estar imaginando nesse momento de descoberta.
Talvez estivesse pensando em uma forma de transformar o que via em divertidos desenhos.Mal sabe ela que esse é só o começo de sua viagem ao imaginário.Mal sabe ela que quando criança fazia o mesmo, e meus devaneios transformaram-se em imagens e mais imagens, idéias e relatos poéticos que tentam dizer coisas aos outros, que tentam devolver às pessoas algo que é tão natural à infância, e que é por muitas pessoas perdido na ânsia de se fazer notável, sério e responsável. Ah, o doce imaginário!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

NÃO SE ESQUEÇAM!!! DIA 13 DE OUTUBRO, A PARTIR DAS 19:30, ACONTECERÁ A ABERTURA DA MINHA EXPOSIÇÃO:CALIGRAFIA DE JULIETA NO BETO BATATA ORIGINAL NO ALTO DA XV.RUA PROFESSOR BRANDÃO 678-CURITIBA TEL-3262-0840
SOBRE A EXPOSIÇÃO CALIGRAFIA DE JULIETA

“A imaginação sempre lhe ofereceu imagens mil para deliciar-se. O mais delicioso dessa brincadeira, era que o imaginar quase se transformava em viver aquilo com toda intensidade e veracidade...

Originadas dos meus devaneios de infância, as imagens e relatos poéticos, assim os chamo, são uma resposta ao mundo imaginário que sempre me encantou e em mim habitou. Mundo esse que me fazia, enquanto criança, descobrir desenhos em tudo, até mesmo nos arabescos dos azulejos do meu banheiro.
Essa brincadeira de encontrar formas, linhas, palavras e versos em todas as coisas, mesmo nas mais pequenas e insignificantes, aos olhos de outros, me levou a um universo particular de descobertas.Universo que encontrei de dentro pra fora e para dentro novamente, em um movimento de espiral, e que agora ao retornar em mim é jogado para o exterior,para o outro, com a mesma intensidade.
Essa exposição é um rompimento de barreiras. Minhas imagens e jogo de palavras saem da barreira do meu eu para ultrapassar a barreira do outro e reverberar em quem quer que sinta alguma significação e identificação com meu trabalho.
Não sigo conceitos, técnicas fechadas, caminhos pré-estabelecidos. Deixo minha intuição falar mais alto e guiar meus desejos de maneira a concretizar meus pensamentos e vivências.

...Sei que podemos parecer invasivas, respondendo correspondência alheia. Mas o fato de podermos interferir positivamente nelas, nos enche de um gozo explêndido, sentido aos âmagos...”

E a história continua, até onde a imaginação me permitir e me jogar ao infinito...
Quintal imaginário.
Conhecera aquele distinto cavalheiro,num quintal que recebia a primavera.Aquele quintal acolhia tão bem as diversas flores, que passava a sensação de colo materno.Quente, acolhedor, receptivo e eterno.
Algumas folhas secas de outono ainda insistiam em brincar com as flores ornadas de diversas formas e cores.O outono resistia em abandonar a primavera.
Nessa transição de estações ela transitou de amores e também de si mesma.Abandonou aquela antiga menina que vivia como se estivesse a pisar em ovos, indecisa, imatura, incoerente,inconstante, medrosa e impulsiva.
Não que abandonou inteiramente seus impulsos.Porém, agora eles estavam entregues à desejos de maneira mais conciente, cautelosa.
O diálogo é iniciado. O livro Pequeno Princípe é que guia a conversa, numa relação de surpresa e êxito por ouvir muito do que pensava pela boca daquela rapaz.Eles comungavam de pensamentos e interesses similares.
Conversam sobre a infância, a maturidade, a sociedade, o pequeno príncipe e sua visão sobre o adulto.
Empolgaram-se ao falar sobre a infância.Aquilo era um ponto em comum e despertava em ambos cheiros da infância,que ainda reside nas vivências de cada um.