quarta-feira, 28 de abril de 2010

Clarice

Era ela Clarice, ou pelo menos a gostaria de ser. Quem essa menina era e quem sonhava ser, distoava e ao mesmo tempo encontrava com quem ela realmente era. Um paradoxo prazeiroso de encontros e desencontros.
Clarice tinha todas as características que ela almejava ter, tinha cabelos cacheados e imensamente vermelhos, pele branca como leite, um sorriso torto e uma delicada pinta ao lado. Sua delicadeza e vivacidade era o que mais admirava em Clarice.Depois das características físicas, o que ela mais admirava em Clarice era o jeito como soltava as palavras, de maneira a quase sentir suas formas dentro de sua boca,num movimento que partia de seu interior, e como um vendaval soltava-se aos quatro ventos e bailava em sua mente, a sua volta.
Clarice dizia palavras de forma a torná-las quase que poéticas.Junto à essas palavras, vinham as frases que evocavam grandiosas imagens que a levavam a devanear pelo seu mais longinquo imaginário.
Essa capacidade de imaginar, sem demais freios encantava a menina de tal jeito que ela sentia uma intensa vontade de por pelo menos alguns segundos, ou talves minutos, apossar-se da cabeça e do corpo de Clarice. Ela não só queria sentir como os braços de Clarice se movimentavam, como também queria sentir como pensava, sentia, percebia e transofrmava seus sentimentos.
Era uma curiosidade quase que incontrolá-vel.Volta e meia se permitia a devanear sobre como seria Clarice, como seria ela mesma.
A capacidade de deixar, sem receios ou mágoa o tempo esvair-se pelos seus dedos, sem culpa alguma, era também algo que a fazia querer cada vez mais ser Clarice.
Sonhando com essa imagem, e fantasiando como seria ter posse dos pensamentos e do corpo de Clarice, a menina subitamente freiou seus pensamentos, não mais se permitindo imaginar e somente pensou:
COMO POSSO EU SER CLARICE, SE NÃO SEI NEM AO MENOS QUEM SOU!
Não me experimentei o suficiente para saber se eu realmente quero adentrar em outro corpo , outra mente, outra vida.
Ela finalmente pensou:Posso ser oras Clarice oras eu mesma, de maneira a não enjoar-me da minha pessoa.
Priscila Reis

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